As paisagens imaginadas de Fran Chang (Poços de Caldas, Brasil, 1990) retratam lugares desabitados, abundantes em água, névoas e vapores, com esparsos corpos celestes no firmamento. A atmosfera gélida e rarefeita das pinturas espelha territórios interiores marcados pela introspecção. Pressente-se a calmaria que antecede a tormenta em cenas em que a vida parece prestes a surgir — ou já ter sido extinta. Ao evocar os mistérios e a magnitude do cosmo, suas pequenas telas convidam à contemplação: há nelas algo que não se revela por completo e que demanda do olhar um tempo de atenção dilatado e silencioso, como quem sonda um enigma. Nesses cenários oníricos, de acidentes geográficos e superfícies aquosas, o sublime e o melancólico estão enredados, expressando o pertencimento fugidio em um mundo que se desfaz.


A seda é o suporte no qual a artista aplica com cuidado as camadas de tinta acrílica, respeitando as propriedades e os limites do material. Essa fibra natural, delicada e ao mesmo tempo resistente, se liga às tradições do continente asiático, referindo-se desse modo à ascendência taiwanesa da artista em elos, além de históricos e culturais, afetivos. A seda também permite à Chang explorar mais a fundo a transparência e a luminosidade que irão reforçar a sensação de evanescência que sua obra traz. 


Fran Chang é formada em Artes Visuais pela Faculdade Belas Artes, em São Paulo, com extensão em Astrofísica e Astronáutica pela Universidade Federal de Santa Catarina. Sua obra já foi apresentada internacionalmente em exposições individuais e coletivas e feiras de arte em Paris, Hong Kong, Chicago, Cidade do México e Lisboa, e integra os acervos do Saint Louis Art Museum (EUA) e do Museu de Arte do Rio (Brasil). Em 2020, foi contemplada com o prêmio Arte como Respiro, do Itaú Cultural.