Por mais de seis décadas, a prática de Anna Maria Maiolino (Scalea, Itália, 1942) tem incorporado meios diversos — desenho, escultura, gravura, vídeo, instalação, performance e poesia — em constante busca por novas formas de expressão. O corpo, a linguagem, o desejo e a subjetividade são tratados como territórios de experimentação, onde o pessoal se funde ao político e o íntimo se abre ao coletivo.

 

A experiência da migração — do sul da Itália para a Venezuela, onde estudou na Escuela de Artes Plásticas Cristóbal Rojas de Caracas, entre 1958 e 1960, e finalmente para o Brasil — desempenha um papel central em sua investigação artística, moldando um pensamento atento às questões de identidade, pertencimento e memória. No início dos anos 1960, no Rio de Janeiro, realizou o curso de gravura em madeira na Escola Nacional de Belas Artes, tendo frequentado também o ateliê de Ivan Serpa. Ao longo da década, sua pesquisa a aproximou de importantes movimentos artísticos brasileiros como a Nova Figuração e a Nova Objetividade, que propuseram uma revisão crítica das linguagens artísticas no contexto de tensão política e social do país sob a ditadura civil-militar. Ao lado de nomes como Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica, participou da icônica mostra Nova Objetividade Brasileira (1967), reafirmando seu papel no debate sobre o papel social da arte. Entre 1968 e 1971, estudou no International Pratt Graphic Center, em Nova York, onde experimentou com a gravura em metal, distanciando-se cada vez mais da figuração.

 

A partir da década de 1980, Maiolino passa a explorar intensamente a relação entre gesto e matéria, utilizando materiais como argila, gesso e massas modeláveis. Em suas mãos, esses materiais registram ações repetitivas e intuitivas, que evocam processos primordiais ligados ao corpo, como alimentar-se ou respirar. Desses gestos, emergem não apenas formas, mas ritmos, falhas e pausas que tornam visível o tempo, a fragilidade e a pulsação da vida. Sua produção propõe uma abordagem particular da abstração, marcada por uma organicidade que rompe com convenções formais rígidas e se abre à experiência tátil, afetiva e existencial do mundo.

 

Em 2024, Maiolino recebeu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pelo conjunto da obra.

 

Dentre suas exposições individuais recentes, destacam-se: Je suis là. Estou aqui, Museu Picasso Paris (2025); Psssiiiuuu…, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, e Fundación Malba, Buenos Aires, Argentina (2022); In the sky I am one and many and as a human I am everything and nothing, Kunsthaus Baselland, Muttenz, Suíça (2021); Por um fio/By a Thread, SCAD Museum of Art, Savannah, EUA (2020); EM TUDO - TODO, Luisa Strina, São Paulo (2019); O amor se faz revolucionário, PAC Padiglione d’Arte Contemporanea, Milão, Itália, e Whitechapel Gallery, Londres, Reino Unido (2019); Errância Poética, Hauser & Wirth, Nova York, EUA (2018); Anna Maria Maiolino, MoCA, Los Angeles, EUA (2017); Ponto a Ponto, Luisa Strina, São Paulo (2014); Anna Maria Maiolino. Matrix 252, Berkeley Art Museum and Pacific Film Archive - University of California, Berkeley, EUA (2014); Afecções: Prêmio MASP Mercedes-Benz, MASP, São Paulo (2012); Anna Maria Maiolino, Fundação Antoní Tàpies, Barcelona, Espanha, Centro Galego de Arte Contemporânea, Santiago de Compostela, Espanha, e Malmö Kunsthalle, Suécia (2010-2011).

 

Integrou exposições nacionais e internacionais de relevância, como: Latin American Art from the Cisneros Gift in Dialogue, MoMA, Nova York, EUA (2023); Escala: Escultura 1945-2000, Fundación Juan March, Madrid, Espanha (2023); Together. Interact, Interplay, Interfere, Kunst Meran, Merano, Itália (2022); This Must Be the Place, Americas Society, Nova York, EUA (2021); A Máquina Lírica, Luisa Strina, São Paulo (2021); Realce, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM Rio (2020); Senzamargine. Passages in Italian Art at the Turn of the Millennium, MAXXI - Museo Nazionale Delle Arti del XXI Secolo, Roma, Itália (2020); Os anos em que vivemos em perigo, Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM-SP (2019); Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985 [Radical Women. Latin American Art, 1960-1985], Pinacoteca de São Paulo, Brooklyn Museum, Nova York, EUA, e Hammer Museum, Los Angeles, EUA (2017-2018); Art and Space, Guggenheim Bilbao, Espanha (2017); Histórias da infância, MASP, São Paulo (2016); The EY Exhibition. The World Goes Pop, Tate Modern, Londres, Reino Unido (2015).

 

Participou da 60ª Bienal de Veneza, Foreigners Everywhere, Itália (2024); 14ª Bienal de Lyon: Mondes Flottantes, França (2017); 20ª Trienal de Milão: Art & Food. Rituals since 1851, Itália (2015); 10ª Bienal de Gwangju, Coréia do Sul (2014); 30ª Bienal, Fundação Bienal de São Paulo (2013); documenta 13: Here & There, Kassel, Alemanha (2012); 29ª Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem velejar (2010).

 

Nomeada Honorary Doctor em 2022 pela University of the Arts London, Reino Unido, Maiolino foi contemplada com diversos prêmios ao longo de sua carreira, como Prêmio Clarival do Prado Valladares (Artista pela trajetória), ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte (2018); Prêmio MASP Mercedes-Benz (2012); Prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes (1994); entre outros. Sua obra integra importantes coleções ao redor do mundo, dentre as quais destacam-se MoMA, Nova York, EUA; Tate Modern; Londres, Reino Unido; Centre Georges Pompidou, Paris, França; MoCA, Los Angeles, EUA; MASP, São Paulo; Fundación Malba, Buenos Aires, Argentina; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; Pinacoteca de São Paulo; e Galleria Nazionale di Roma, Itália.