Cildo Meireles sobre o trabalho Obscura Luz
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Luisa Lambri, Barragán House (2005)
Essa série de fotografias foi realizada na Casa Luis Barragán, residência do arquiteto modernista mexicano. Luisa Lambri capturou a icônica janela quadrada da casa, posicionando as gelosias em arranjos sutilmente diferentes. A luz que penetra pelas aberturas produz configurações em forma de cruz que possuem características ao mesmo tempo religiosas e modernistas. O trabalho de Luisa Lambri, em sua maioria constituído de imagens PB em grande formato, discutem o meio da fotografia e o legado da abstração geométrica por meio da obra de outros artistas e arquitetos. -
Anna Maria Maiolino, Sem título, da série Entre o Dentro e o Fora (2014)
"O modo como Maiolino explora a corporeidade do papel e da argila situa seu trabalho muito proximamente das práticas neoconcretas, dando maior atenção ao processo de construção do que àquilo que é construído. Embora seu interesse seja direcionado tanto ao imediatismo da operação quanto à inevitável conotação de corpo, ela também busca dissolver as oposições entre sujeito e objeto, artista e espectador, natureza e cultura. Igualmente importante ao espaço exterior é aquilo que Clark descreve como 'o sentimento de um espaço profundo dentro de nós' - a relação de um espaço externo real com um espaço interior imaginário. É no âmbito das tarefas domésticas triviais que Maiolino encontra uma maneira de avançar seu trabalho com o barro moldado e de conectar o sujeito à sua história primitiva."
"Nos anos 1990, seu próprio processo de trabalho parece se bifurcar, levando a escultura de Maiolino para dois caminhos paralelos. Um deles leva a trabalhos que encontram sua forma final na interrupção do processo de moldagem na segunda fase da execução do molde. O trabalho consiste do próprio negativo recuperado nas séries 'A sombra do outro' (1993), Os ausentes (1993-1996), 'É o que falta' (1995-2001), e 'Entre o dentro e o fora' (1995). Como descreve Maiolino: 'Os títulos desses trabalhos se referem à existência do oposto, o positivo ausente que foi separado do negativo. Eles formam um único corpo em dado momento do processo de feitura da escultura moldada. Assim, o processo desses trabalhos incorpora a nostalgia pela matriz.' O molde, geralmente esquecido e descartado, 'ganha um novo valor pela ênfase dada a suas propriedades generativas, ao espaço vazio, no qual a memória do outro existe em sua ausência: o presente-positivo na ausência.' "
Catherine de Zegher (Maiolino’s Earthen Work or Enfooded Art)
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Clarissa Tossin, Vogais Portuguesas (2008)
"Em minha primeira visita ao ateliê de Clarissa, no início de 2009, encontrei cinco glóbulos de resina cor de âmbar. Intituladas Vogais Portuguesas (2008), essas formas “orgânicas” peculiares – cada uma caberia em uma mão – não são amorfas como parecem à primeira vista, mas incrivelmente específicas. Moldadas em açúcar, com a boca da artista servindo de fôrma, o formato determinado pela pronúncia de cada uma das cinco vogais da língua portuguesa, mantida na boca enquanto o molde secava.
A… E… I… O… U… Eu deveria ter reconhecido aquelas formas antes: quando era criança, meu ortodontista fez moldes parecidos da minha boca, embora fossem de gesso, e não de açúcar. A escolha do material não é arbitrária. O açúcar, assim como a língua portuguesa, representa uma história colonial: sua cultura estruturou a paisagem, a economia e o movimento dos corpos, na medida em que o açúcar tornou-se o maior produto de exportação do Brasil do século XVI até o século XVIII. A crescente popularidade do açúcar na Europa alimentou os trabalhadores das fábricas e a revolução industrial, bem como o tráfico de escravos da África para o Brasil - um ciclo vicioso que garantiu o controle de Portugal sobre o território colonial. Há também algum material da história da arte para levarmos em conta aqui. Por exemplo, as esculturas de Bruce Nauman moldadas em partes do corpo (e.g., as auto-explicativas 'Wax Impressions of the Knees of Five Famous Artists' - 'Impressões em cera dos joelhos de cinco artistas famosos', 1966), bem como suas manipulações faciais ('Both Lips Turned Out / Mouth Open / Upper Lip Pushed'…, um desenho de 1967) e sua inventiva fotografia Eating My Words (1966–67/1970). As esculturas de chiclete de Hannah Wilke (S.O.S.—Starification Object Series, 1975), igualmente divertidas e decididamente sexuais, também vêm à mente. E, antes deles, vem With My Tongue in My Cheek (1959), de Duchamp, um molde em gesso do interior da bochecha do artista montado em um desenho de seu perfil. Podemos assumir que essas referências também são assumidas - consumidas - pela artista. De qualquer forma, é engraçado imaginar o processo de moldar vogais doces na boca, para falar de multitarefa. Quanto tempo ela ficou em cada posição - cada nota? Qual é o som de uma vogal moldada em açúcar? Ela babou enquanto fazia esse trabalho? Aqui, o corpo serve como um meio, um veículo. O substantivo francês véhicule deriva do verbo vehere, carregar, originado do latim vehiculum - transporte, transferência. O corpo, mobilizado, é um veículo. O corpo transporta. (E ocasionalmente baba: excede, perde o controle.) Como um veículo, carrega história, significado - como um agente do consumo, um agente da tradução (e.g, do som à escultura), um agente da transição (de verbo a substantivo)."
(Texto de Michael Ned Nolte, 2015)
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