O trabalho é constituído por uma série de espelhos em cujas superfícies estão gravadas imagens fotográficas que tiveram grande circulação midiática dentro de um período de tempo específico. Somos inseridos nessas imagens, forma-se uma sobreposição que leva o olho a vacilar, ora na imagem diante de si, ora na própria imagem. Não há possibilidade de separação entre imagem e sujeito, o que, obrigatoriamente nos insere em um contexto que poderia ser pensado como algo distante, como algo que não nos concerne. Entretanto, estar diante de um espelho, nos coloca em uma situação incontornável, presente e, ainda que efêmera, parte de nós. Desde o ano de 2016, quando comecei a selecionar algumas dessas fotografias, foi possível perceber como em um curto período de tempo, muitas daquelas imagens se ressignificaram, fazendo-nos perceber uma cadeia de acontecimentos futuros, quase como um ponto de partida para uma série de eventos. Enquanto outras perderam a capacidade de nos afetar como no momento em que foram feitas. De qualquer forma, todas as imagens transformadas em espelhos, são um recorte de tempo que nos informa sobre determinado período histórico. Portanto, mais do que nos colocar diante de fatos passados recentes, ou presentes, o espelho nos coloca dentro desses fatos. A qualidade efêmera das imagens em circulação, quando gravadas com o nitrato de prata sobre o vidro, ganham permanência física e temporal e incorporam o observador que não pode deixar de se implicar naquilo que vê. Todos aqueles acontecimentos, registrados em fotografias feitas no calor da hora, por menos que desejemos assumir, são fatos que nos concernem. Carolina Cordeiro